quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Metamorfose

A Metamorfose (Die Verwandlung em alemão), é um conto escrito por Franz Kafka, publicado pela primeira vez em 1915.
"Uma manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto".
É deste modo que Kafka inicia a história de Gregor, um caixeiro-viajante "obrigado" que deixou de ter vida própria para suportar financeiramente todas as despesas de casa.
Numa manhã, ao acordar para o trabalho, Gregor vê que se transformou num inseto horrível com um "dorso duro e inúmeras patas". A princípio, as suas preocupações passam por pensamentos práticos relacionados com a sua metamorfose.
Depois, as preocupações passam para um estado mais psicológico e até mesmo sentimental. Gregor sente-se magoado pela repulsa dos pais perante a sua metamorfose. Apenas a irmã se digna a levar-lhe a alimentação, mas mesmo assim a repulsa e o medo também começam a se manifestar. A metamorfose de Gregor vai além da modificação física. É sobretudo uma alteração de comportamentos, atitudes, sentimentos e opiniões.
Gregor passa a analisar as coisas que o rodeiam com muito mais atenção. Outra metamorfose ocorre no seio familiar: o pai volta a trabalhar, a irmã também arranja um emprego e passam a alugar quartos na própria casa onde habitam. As atitudes dos pais perante o filho retratam ao leitor a idéia que este era apenas o "sustento" da casa. A metamorfose de Kafka não conta apenas a história de um homem que se transformou num inseto. É sobretudo uma história de alerta à sociedade e aos comportamentos humanos. Nesta história, Kafka presenteia-nos com a sua escrita sui generis, retratando o desespero do homem perante o absurdo do mundo.

Franz Kafka


(Praga, 3 de Julho de 1883 — Viena, 3 de Junho de 1924) foi um escritor checo de língua alemã.
Filho mais velho de Herrmann Kafka, um abastado comerciante judeu, e de sua esposa Julie, nascida Löwy. Kafka cresce sob as influências de três culturas: a judaica, a checa e a alemã.
Kafka aprendeu alemão como sua primeira língua, contudo era quase fluente em checo. Formado em Direito, em 1906, trabalhou como advogado a princípio na companhia particular Assicurazioni Generali e depois no semi-estatal Instituto de Seguros contra Acidentes do Trabalho. Solitário, com a vida afetiva marcada por irresoluções e frustrações, Kafka nunca atingiu fama ou fortuna com seus livros, na maioria editados postumamente.
O seu livro A Metamorfose (1915) narra o caso de um homem que acorda transformado num gigantesco inseto; O Processo (1925) conta a história de um certo Josef K., julgado e condenado por um crime que ele mesmo ignora; O Castelo (1926), o agrimensor K. não consegue ter acesso aos senhores que o contrataram. Essas três obras-primas definem não apenas boa parte do que se conhece até hoje como "literatura moderna", mas o próprio carácter do século: kafkiano.
Autor de várias colectâneas de contos, Kafka escreveu também a avassaladora Carta ao Pai (1919) e centenas de páginas de diários. Deixou inacabado o romance Amerika.
Morreu num sanatório perto de Viena, onde se internara com tuberculose. Desde então, seu legado - resgatado pelo amigo Max Brod - exerce enorme influência na literatura mundial.
A escrita de Kafka é marcada pelo seu tom despegado, imparcial, atenciosa ao menor detalhe, e que abrange os temas da alienação e perseguição. Os seus trabalhos mais conhecidos abrangem temas como as pequenas histórias A Metamorfose, Um artista da fome e os romances O Processo, América e O Castelo. Os seus contos são julgados como verdadeiros e realistas, em contato com o homem do século XXI, pois os personagens kafkanianos sofrem de conflitos existenciais, como o homem de hoje. No mundo kafkaniano, os personagens não sabem que rumo podem tomar, não sabem dos objetivos da sua vida, questionam seriamente a existência e acabam sós, diante de uma situação que não planejaram, pois todos os acontecimentos se viraram contra eles, não lhes oferecendo a oportunidade de se aproveitar da situação e, muitas vezes, nem mesmo de sair desta. Por isso, a temática da solidão como fuga, a paranóia e os delírios de influência estão muito ligados à obra kafkiana, sendo comum a existência de personagens secundários que espiam, e conspiram contra o protagonista das histórias de Kafka (geralmente homens, à exceção de alguns contos onde aparecem animais e raros onde a personagem principal é uma mulher). No fundo, estes protagonistas não são mais que projecções do próprio Kafka, onde ele expõe os seus medos, a sua angústia perante o mundo, a sua solidão interior.

CLARICE LISPECTOR


Clarice Lispector (ucraniano: Кларісе Ліспектор) (Tchetchelnik, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora brasileira nascida na Ucrânia.
De família judaica, emigrou com a família para o Brasil quando tinha um pouco mais de um ano de idade. Começou a escrever logo que aprendeu a ler, na cidade do Recife. Clarice falava vários idiomas, entre eles o francês e inglês. Cresceu ouvindo no âmbito domiciliar o idioma materno familiar, o iídiche.
Em 1944 publicou seu primeiro romance, Perto do coração selvagem.
A literatura brasileira era nesta altura dominada por uma tendência essencialmente regionalista, com personagens contando a difícil realidade social do país na época. Clarice Lispector surpreendeu a crítica com seu romance, quer pela problemática de caráter existencial, completamente inovadora, quer pelo estilo solto elíptico, e fragmentário, que críticos reputaram reminiscente de James Joyce e Virginia Woolf, se bem que ainda mais revolucionário.
Em verdade, a obra de Clarice ultrapassou qualquer tentativa de classificação. A escritora e filósofa francesa Hélène Cixous vai ao ponto de dizer que há uma literatura brasileira A.C. (Antes da Clarice) e D.C. (Depois da Clarice).
Seu romance mais famoso talvez seja A hora da estrela, o último publicado antes de sua morte. Este livro narra a vida de Macabéa, uma nordestina criada no estado de Alagoas que migra para o Rio de Janeiro, e vai morar em uma pensão, tendo sua vida descrita por um escritor fictício chamado Rodrigo S.M.
Faleceu em 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57º aniversário.
Clarice traduziu para o português, em 1976, o livro Entrevista com o Vampiro, da autora estadounidense Anne Rice.
A primeira edição de Onde estivestes de noite foi recolhida porque foi colocado, erroneamente, um ponto de interrogação no título.
Em artigo publicado no jornal The New York Times, no dia 11/03/2005, a escritora foi descrita como o equivalente de Kafka na literatura latino-americana. A afirmação foi feita por Gregory Rabassa, tradutor para o inglês de Jorge Amado, Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa e de Clarice.